A circuncisão é uma operação cirúrgica que consiste na remoção do prepúcio, prega cutânea que recobre a glande do pênis. Essa remoção, chamada também exérese do prepúcio, peritomia (do grego peri, “em torno”, e tomia, “corte”) ou postectomia, é praticada há mais de 5 mil anos, e realizada atualmente em clínicas com condições de higiene e assepsia.Cerca de 30% dos homens no mundo são circuncidados, por motivos religiosos e também por razões de higiene. Entretanto muitos a consideram uma forma de mutilação genital e dizem que a circuncisão diminui a sensibilidade e o prazer sexual do homem. A circuncisão tem como origem o desejo de marcar permanentemente seguidores de uma religião e também foi utilizada como uma maneira de dificultar ou impedir a masturbação.
A ONU (Organização das Nações Unidas) apóia a circuncisão masculina como um meio para reduzir a transmissão do vírus HIV (agente causador da Aids) em homens heterossexuais. Este apoio deve ser encarado com cautela pois a eficácia parece girar em torno de apenas 50% e os resultados foram endossados por governos que defendem a circuncisão por motivos puramente religiosos.
Alguns acreditam que, depois do corte do cordão umbilical – a onfalotomia – a circuncisão seja provavelmente o mais antigo tipo de cirurgia. O termo circuncisão deriva da junção de 2 palavras latinas, circum e cisióne, e significa literalmente “cortar ao redor”. Atualmente, a circuncisão masculina ainda é praticada em muitos lugares da Terra como rito religioso e também social por vários povos, tais como judeus e muçulmanos. A partir de meados do Século XX, a circuncisão tornou-se uma prática médica vulgar, especialmente nos EUA. No entanto, a sua frequência reduziu-se progressivamente, pois hoje a prática regular de hábitos de higiene genital, que têm o mesmo efeito da circuncisão, se tornou cada vez mais comum entre as pessoas .
Origens e fatores culturais da circuncisão
Relevo da VI dinastia ilustrando a circuncisão no Antigo Egipto
A circuncisão masculina provavelmente começou como um ritual mágico, talvez para aumentar – ou, ao contrário, dominar – a virilidade. Em muitas culturas, a circuncisão no início da puberdade é encarada como um ritual de passagem – que marca o início da adolescência e a entrada do rapaz na vida adulta. Serve ainda como um sinal permanente de identificação como prova de iniciação num grupo social ou religioso.
Circuncisão na cultura judaica
Acredita-se que os hebreus tenham assimilado a prática da circuncisão dos egípcios. No Antigo Israel, a circuncisão tinha-se de ser realizada no 8.º dia do nascimento. Tem o sentido de um sinal da aliança entre Deus e Abraão e seus descendentes e um rito de inserção no povo eleito. Deus terá tornado obrigatória a prática da circuncisão masculina para Abraão, um ano antes de nascer Isaque. Todos homens na casa de Abraão, tanto dos seus descendentes como dos dependentes, estavam incluídos, e todos os seus escravos receberam em si mesmos este “sinal do pacto” onde entregavam a Deus a sua aliança de carne (anel prepucial) mostrando a reciprocidade deste ato de fé em seu corpo (levítico). A desconsideração deste requisito era punível com a morte. A circuncisão torna-se um requisito obrigatório na Lei dada a Moisés. (Levítico 12:2, 3) Isto era tão importante que, se o 8.º dia caísse no dia de Sábado, teria-se de realizar a circuncisão. No 1.º Século da EC, entre os judeus, era costume social dar nome ao recém-nascido do sexo masculino quando era circuncidado. Mas os profetas do Antigo Testamento mostravam ser mais importante do que a circuncisão literal, é a circuncisão figurativa ou no “circuncisão do coração”. (Deuteronômio 10:16; 30:6; Jeremias 4:4; 9:25) Os judeus que não eram sensíveis às palavras dos profetas, são chamados figurativamente de “incircuncisos”. (Jeremias 6:10; Atos 7:10).
Influência da cultura grega
A influência da cultura grega começou a predominar no Médio Oriente, e muitos povos abandonaram a circuncisão. Mas, quando o rei sírio Antíoco IV (Epifânio) proscreveu a circuncisão, ele encontrou mães judias dispostas antes a morrer do que a negar aos seus filhos o “sinal do pacto”. Anos mais tarde, o imperador romano Adriano (117-138) obteve a mesma atitude quando proibiu aos judeus circuncidar seus recém-nascidos. Alguns atletas judeus, que desejavam participar dos jogos helenísticos, esforçavam-se a se tornar “incircuncisos” por meio de uma operação destinada a restabelecer certa semelhança de prepúcio, no empenho de evitar zombaria e ridículo.
Sempre no oitavo dia
“Com base na consideração das determinações de vitamina K e de protrombina, o dia perfeito para se realizar uma circuncisão é o oitavo dia”. (citação de “Nenhuma Dessas Doenças“, Dr. S. I. McMillen, 1986, pág. 21, em inglês) Seguir esta regra ajudava a evitar o perigo de uma grande hemorragia mas os judeus ancestrais desconheciam as vitaminas. A circuncisão era usualmente feita pelo chefe de família. Em tempos posteriores, usava-se uma pessoa treinada para esta operação.
A circuncisão e o cristianismo
Com a fundação do Cristianismo, a circuncisão deixou de ser um requisito religioso obrigatório para os cristãos judeus, embora não fosse expressamente proibida. (Atos 15:6-29) A perspectiva da Igreja Católica é contrária à circuncisão (rito judaico) desde seus primeiros dias. Conforme o Papa Eugênio IV oficializou na Bula de União com os Coptos, de 1442, a Igreja manda a todos os seus fiéis que “… não pratiquem a circuncisão, seja antes ou depois do baptismo, pois ponham ou não sua esperança nela, ela não pode ser observada sem a perda da salvação eterna”.
Circuncisão como medida profilática
Os defensores da circuncisão afirmam que existe um valor prático na circuncisão masculina, como um ato médico. Como uma medida de higiene, há quem defenda que seja útil para impedir a acumulação de uma secreção genital chamada esmegma, no espaço entre a glande e o prepúcio que a recobre. Se o esmegma não for removido, torna-se um mal cheiroso campo de cultivo de bactérias que causam grande irritação e é foco de infecções. É realizada em certos casos de fimose, parafimose ou quando a glande masculina não pode ser libertada. Para estes últimos casos, existe como alternativa à circuncisão, uma terapia local de creme esteróide que parece ser eficaz; e mesmo quando esta falha, há ainda a prepucioplastia, uma cirurgia que corrige o prepúcio sem removê-lo.
No entanto, recentes estudos mostram que a circuncisão pode ajudar a prevenir infecções nos rins e nas vias urinárias. Outros estudos mostram que os homens incircuncisos têm mais probabilidade de contrair infecções por via sexual do que os homens circuncidados, inclusive de contrair o vírus do HIV. Sugere-se como um possível motivo que o prepúcio proporciona um ambiente tépido, úmido, que dá ao agente infeccioso mais tempo de sobrevivência e oportunidade para infiltração no organismo. De acordo com notícia publicada no site do jornal brasileiro Folha de São Paulo^ , casos de infecção caíram 50% em teste na África e estudos foram interrompidos após benefício se mostrar tão evidente. Por se tratar de uma proteção parcial, não se dispensa o uso da camisinha.