Ora, havia um homem rico, e vestia-se de púrpura e de linho finíssimo, e vivia todos os dias regalada e esplendidamente. Havia também um certo mendigo, chamado Lázaro, que jazia cheio de chagas à porta daquele. E desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico; e os próprios cães vinham, Lamber – lhe as chagas. E aconteceu que o mendigo morreu e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico e foi sepultado. E no Hades, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão e Lázaro, no seu seio. E clamando, disse: Abraão, meu pai, tem misericórdia de mim e manda a Lázaro que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama. Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro, somente males; e, agora, este é consolado, e tu, atormentado. E além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá, passar para cá.
Viajando à Judeia, Jesus ensina muitas coisas. Dentre elas, que há só dois modelos possíveis de vida:
– O viver baseado no amor ao Dinheiro (Mamom)
– O viver baseado no amor a Deus
O primeiro modo é marcado por ansiedade, ganância e, como veremos, por indiferença. Já o segundo é marcado por fé, generosidade e compaixão. Resta-nos a pergunta: temos vivido amando a Deus ou ao Dinheiro?
Os discípulos de Jesus são aqueles que vivem baseados no amor a Deus, transformando indiferença em compaixão. Para alcançar esse estado de espírito é preciso desenvolver três percepções.
A percepção do necessitado
A parábola começa descrevendo seus personagens principais: o rico e o Lázaro. O rico se veste de púrpura e de linho fino e vive no luxo. Ele é coberto por vestes caríssimas e tem abundância de comida. O mendigo Lázaro é coberto de chagas e anseia comer o que cai da mesa do rico. Ele é cheio de feridas e tem escassez de comida. Três detalhes chamam atenção na descrição dos personagens.
Primeiro: há um porão que os separa
O olhar de Jesus desmarcara a realidade. As classes mais poderosas e os estratos mais miseráveis parecem pertencer à mesma sociedade, mas estão separados por uma barreira invisível: essa porta que o rico nunca atravessa para aproximar-se de Lázaro.
Para desenvolver essa percepção diante da dor do outro é preciso transitar entre esferas, atravessar portas e ir até lugares que, na maioria das vezes, são inóspitos.
Segundo: Lázaro é nomeado, o rico não
Em todas as parábolas de Jesus, o único personagem nomeado é Lázaro. O nome significa “aquele a quem Deus ajuda”. Na parábola, vemos que o significado do nome corresponde à situação vivida pelo personagem.
Quando observamos as durezas da vida, não compreendemos como Deus “permite” que uns sejam abastados e outros tenham falta. A parábola do Rico e do Lázaro é um afago para a alma, pois ela mostra que há alguém que irá reajustar as balanças, trazendo justiça para todos.
Terceiro: os cães se importam com Lázaro, o rico não
Levando em consideração o contexto da época, Kenneth Bailey sugere que esses cães são os cães de guarda da casa do rico. Eles se alimentavam do que cai da mesa de seu dono, Lázaro não. O texto bíblico chega a dizer que os cães lambiam as feridas de Lázaro. Eles desfrutavam de sua companhia.
De fato, o que mais interessa e chama atenção na parábola é que Jesus denuncia a indiferença dos que são abastados diante daqueles que são pobres; Jesus denuncia a indiferença que nós mesmos estamos sujeitos quando o necessitado está à nossa porta; quando vivemos em uma bolha e os pobres podem ser, para nós, invisíveis.
Jesus está nos ensinando que amá-lo é também se importar com o outro. De fato, essa é uma das características que Deus mais admira, colocando-a acima, inclusive, da religiosidade. A Parábola do Bom Samaritano conta a história de um homem que descia de Jerusalém para Jericó e que caiu nas mãos de alguns ladrões.
“Estes, depois de lhe tirar a roupa e lhe causar muitos ferimentos, retiraram-se, deixando-o semimorto. Por casualidade, um sacerdote estava descendo por aquele mesmo caminho e, vendo aquele homem, passou de largo. De igual modo, um levita descia por aquele lugar e, vendo-o, passou também. Certo samaritano, que seguia o seu caminho, passou perto do homem e, vendo-o, compadeceu-se dele. Aproximou-se e fez curativos nos seus ferimentos, aplicou óleo e vinho sobre suas feridas. Depois, colocou o homem sobre seu animal, levou-o para uma hospedaria e tratou dele. Lucas 10.
Compadecer-se. Essa é a qualidade que devemos buscar todos os dias. Quanto mais nos compadecemos do próximo, mais compreendemos a dor do outro; mais oramos por ele; mais amamos o nosso próximo. Porque, na verdade, amar o nosso próximo é compadecer-se. É compreender que todos nós temos ausências e que, por meio de relacionamentos saudáveis, podemos suprir a necessidade uns dos outros – seja ela de afeto, de dinheiro ou de paz.
Esse é o corpo que Jesus Cristo chama de igreja: relevante, amoroso e parecido com ele. Cheio de gente cheia do Espírito, de compaixão, mais preocupada com as necessidades do próximo do que com dinheiro. É isso que devemos buscar.
Referência bíblica
A parábola do rico e Lázaro