Quando o amor esfria.


Amar a Deus e ao seu próximo como a ti mesmo

Há trinta e cinco milagres atribuídos a Jesus nos evangelhos, mas quero destacar dois deles que vão amparar a nossa discussão:  a cura da sogra de Pedro (Lucas 4.38-40) e a cura do paralítico descido pelo telhado (Lucas 5.17-25). Vamos ler os textos com atenção.

A cura da sogra de Pedro – Lucas 4.38-40
“Jesus saiu da sinagoga e foi à casa de Simão. A sogra de Simão estava com febre alta, e pediram a Jesus que fizesse algo por ela. Estando ele em pé junto dela, inclinou-se e repreendeu a febre, que a deixou. Ela se levantou imediatamente e passou a servi-los. Ao pôr do sol, o povo trouxe a Jesus todos os que tinham vários tipos de doenças; e ele os curou, impondo as mãos sobre cada um deles.

 

A cura do paralítico descido pelo telhado – Lucas 5.17-25
“E aconteceu que, num daqueles dias, estava ensinando, e estavam ali assentados fariseus e doutores da lei, que tinham vindo de todas as aldeias da Galileia, e da Judeia, e de Jerusalém. E a virtude do Senhor estava ali para os curar. E eis que uns homens transportaram numa cama um homem que estava paralítico, e procuravam fazê-lo entrar e pô-lo diante dele. E, não achando por onde o pudessem levar, por causa da multidão, subiram ao telhado, e por entre as telhas o baixaram com a cama, até ao meio, diante de Jesus. E, vendo ele a fé deles, disse-lhe: Homem, os teus pecados te são perdoados.”

Em ambas as narrativas, percebemos a compaixão de Jesus diante dos homens, mas também vemos a compaixão dos homens pelos seus pares.

No primeiro milagre, os que estavam na casa de Simão pedem a Jesus que ele faça algo pela mulher que ardia em febre. No segundo, amigos se reúnem para carregar um homem paralítico e levá-lo a Jesus de qualquer forma – restou a eles subir ao telhado e descê-lo por lá. Imagine a dificuldade enfrentada por esses homens? Histórias como essas são narrativas distantes de nós, mas os problemas ainda são os mesmos.  O que mudou foi a nossa atitude diante dos infortúnios da vida.

O culto ao eu

De todos os mandamentos é possível que “amar o próximo como a ti mesmo” seja o mais negligenciado pela comunidade cristã. Afinal, o individualismo e espírito competitivo acabam vendando os nossos olhos e nos impedindo de olhar para a necessidade do outro. O culto ao eu é denunciado na epístola de Tiago.

“De onde vêm as guerras e contendas que há entre vocês? Não vêm das paixões que guerreiam dentro de vocês? Vocês cobiçam coisas, e não as têm; matam e invejam, mas não conseguem obter o que desejam. Vocês vivem a lutar e a fazer guerras. Não têm, porque não pedem. Quando pedem, não recebem, pois pedem por motivos errados, para gastar em seus prazeres. Tiago 4:1-3

Não acolhemos as viúvas, não olhamos para a causa do pobre e deixamos a fé morrer aos poucos. Pois ela, sem obras, torna-se morta. Você se lembra disso? Deveríamos, portanto, olhar para o nosso interior resgatando, de alguma forma, a compaixão que Cristo plantou em nossos corações.

Se não é comigo, não ligo

“E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto. E, ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo. E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e, vendo-o, passou de largo. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão; E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre o seu animal, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele; E, partindo no outro dia, tirou duas moedas, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que de mais gastares eu te pagarei quando voltar. Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai, e faz da mesma maneira. Lucas 10:30-37

Na história, contada por Jesus, apenas um homem se fez próximo. E se fez próximo não só porque viu aquele que necessitava de sua ajuda, mas porque agiu, interferiu e transformou a sua realidade, enfaixando as suas feridas e o colocando em cima de seu burrinho.

Interfira e transforme a realidade das pessoas que Jesus coloca em seu caminho. Não necessariamente será alguém lutando contra a morte, pode ser um sujeito que luta contra a depressão ou alguém que não quer desistir de seu casamento.

“Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado. Tiago 4.17

O samaritano, o óleo e o vinho

Nessa parábola temos símbolos que também trazem um profundo ensinamento para nós. Afinal, o samaritano representa Jesus, o óleo diz respeito ao Espírito Santo e o vinho representa o sangue de Cristo que liberta o pecador. A hospedaria não pode ser a igreja? Você não pode ser o samaritano de seu tempo? Afinal, tudo que recebemos de bom, precisamos entregar a alguém. É daí que vem a nobreza do evangelho. Ou seja, é tendo empatia com o outro e com seus dilemas e dores que nos tornamos cada vez mais humanos.

Conclusão

A sua misericórdia dura para sempre? No Salmo 136, encontramos a máxima de que a misericórdia de Deus dura para sempre. Não devemos mirar na sua imagem para sermos semelhantes ao nosso Criador? O apóstolo João é claro: “Queridos amigos, amemos uns aos outros porque o amor vem de Deus. Quem ama é filho de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não o conhece, pois Deus é amor”. [1 Jo 4.7 e 8] esse artigo é uma reunião de tudo que o amor exige de nós. Para que sejamos semelhantes é preciso ter empatia; é preciso sentir a dor do outro; é preciso intervir na dor do outro. Pois, Jesus Cristo fez o mesmo por nós. Reflita sobre isso e tente aguçar a sua humanidade. Dessa forma, conseguiremos transformar um pouco do que está ao nosso redor e sob os nossos cuidados. O amor tem esfriado no mundo, mas a sua chama – definitivamente – não pode apagar.